Ah, é primavera

Ô-ô-ô é manjado. O do boné, flamenguista doído, canta há metade de seus vinte anos, tanto quanto o avô de alguém, com pinta de botafoguense e animado desde os pulmões. Mesmo que o Maracanã faça falta pra domingo, não é o caso de já darem saudades as mãos berrando espalmadas. Lapa lotada também não é de agora, façam-me o favor. De mais a mais, o carnaval anda por aí bagunçando gerações.
É que o boné e a barriga mais experimentada vez ou outra brindam juntos no som, mas quase só nele. Da cabeleira do Zezé ao bicho que vai pegar, o canto é menos pelo que se canta, a ideia é essa. Vamo-que-vamo.
Perguntado sobre o último comício, o já-avô não lembrava quando. E o boné: comício?
Sim. E na chuva.
E no aperto.
Nenhum consolo de tamborins ou falta cobrada no ângulo.
O ô-ô-ô era conhecido. Dos estádios, do cordão. Mantra etc. Só que mais, desculpem o xerifão da zaga e o amigo Zezé: em plena Lapa esbaldada, é o canto e ainda por cima o cantado - bordoada no governador, ahá-uhú. Um beijo e aquele abraço pra mãe do prefeito. Por pura vontade de mudar.
Faz tanto tempo que vale como a primeira vez. Os de bermuda importando seus maracanãs para reivindicar a cidade. A outra, cabelo pintado sobre o branco, olho pronto a desacreditar um novo nocaute (agora-vai). Descoberta e persistência, ô-ô. Chuva cutucando rio, laiá.
Feliz 21 de setembro, nem carnaval nem final da Guanabara. Ah! É primavera!


(Texto escrito após comício na Lapa do então candidato a prefeito Marcelo Freixo - 10/2012)

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